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Uma amizade a três !

Aos 17 anos ela bateu-me à porta, sempre esteve lá, mas nunca se apresentou. Aos 17, quase para os 18, decidiu apresentar-se. Vinha com o rótulo de "crónica" e com ela trazia os seus amigos "complicações" e o eterno "para a vida toda", ou pelo menos enquanto cá estiver.
Senti, naquele dia, que veio para me atazanar o juízo e moer-me a paciência, senti que compraríamos muitas discussões e que ela me ganharia em todas, que me derrotaria e que me abalaria no mais pequeno discurso. Chorei, gemi, gritei, caí, desmoronei, vez após vez, sem parar e, perguntei muitas vezes porque não queria ela fazer amizade com outra pessoa que não eu. Esta luta, contra ela, em que eu combati com toda a raiva que tinha contida dentro de mim, só me destruiu ainda mais. Durou cerca de 2 meses. Para os que me rodiavam foram 2 anos. Um dia, alguém me disse que ela tinha acordado para me "despertar para a vida". Não percebi! Juro que não e ainda mais me debati contra mim mesma e contra ela. Na verdade, contra todos os que me amavam, mas nunca entendi. Na minha cabeça fazia tudo certo, eu só estava enfurecida com esta "crónica" na minha vida. E assim foi e continuou, até ao dia em que com ela veio a hipótese  mais sombria. Trazia consigo uma das suas inimigas: a anemia. Esta personagem pomposa, de que pouca gente tem medo de se relacionar, porque bem se diz que com a comidinha da mãe e com uma boa dose de ferro passa, veio para me atazanar a vida. Com ela trazia o cansaço, a derrota e a inibição a qualquer tipo de reação. Ela não reagia e por mais que tentá-se não queria ser minha amiga. O destino era entregar-me nas mãos de um hospital, ser internada e esperar que uma transfusão de sangue melhorá-se tudo. Foi o prognóstico mais difícil que tive. Estava cansada, não conseguia mais. Ia-me deixar ficar por este prognóstico e pronto. Ia-me entregar ao "destino". Nunca fui disso! Sempre fui de lutar e aprendi muito cedo a fazê-lo, mas naquela altura não podia mais. Só que Deus coloca-nos as pessoas certas, nos locais certos, à hora certa e nós nem percebemos.
Quem deu conta da existência desta minha "última companheira", a "anemia", foi um amigo-médico, (gosto mais do que médico-amigo, porque este foi mais do que um simples médico, foi um amigo com um abraço do tamanho do mundo) que não desistiu de mim, e não me entregou ao destino das agulhas. Preferiu investir em mim, ensinando-me o que fazer direitinho para que tudo corresse bem. E assim foi. Eu consegui. Nós conseguimos.
O mais importante da "crónica" sabem o que foi? Foi preciso ela bater-me à porta, entrar na minha vida, eu ficar entre a espada e a parede, sem chão, para perceber que a minha vida era um desastre. Eu não tinha Deus. Só lhe "ligava" quando me convinha. Foi preciso ela chegar para eu perceber o quanto estava a arruinar a minha vida e quem eu era naquele momento. Para perceber que não sabia agradecer pela vida que tinha, para perceber que não sabia qual era o verdadeiro sentido da vida, a verdadeira paz, a felicidade, a tranquilidade, a paciência e o AMOR. Valores tão preciosos que me foram ensinados por Deus, desde pequena, e aos quais eu não dava valor. Valores que me ensinaram a ser quem sou e que eu simplesmente ignorava. Valores que me fizeram ter vergonha perante Deus. Valores aos quais foi preciso uma "crónica" para me mostrar o mau usufruto que fazia deles. Acreditem eu sempre fui uma menina muito tranquila, mas de que vale isso sem dar um sentido à vida?
Hoje, tenho a "crónica" comigo, sempre a vou ter, ela decidiu ser mesmo minha amiga e nunca mais me abandonar. De vez em quando gosta de ser marota e lá me prega algumas partidas, mas tem-me deixado vencer sempre no final. Ela ligou-me mais e mais a Deus e foi o verdadeiro elo de uma amizade a três.
Hoje sou muito feliz comigo, com a "crónica", com Deus e com tudo o que vier.

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